Com o fim da II Guerra Mundial o padre jesuíta Roberto Sabóia de Medeiros, um visionário, percebeu que o Brasil iria deixar de ser um país meramente agrícola, entrando em um forte processo de industrialização. Ainda em 1945 criou a Fundação de Ciências Aplicadas que, no ano seguinte, originaria a Faculdade de Engenharia Industrial, mais conhecida pela sigla FEI, inicialmente sediada no bairro da Liberdade, reduto oriental da cidade de São Paulo, SP. E a FEI. futuramente, faria o único carro esporte nacional com motor Chrysler 318 V8, o X3 Lavínia.

Na segunda metade da década de 50, com a chegada de Juscelino Kubitscheck a presidência do Brasil, o surto desenvolvimentista imaginado por Sabóia de Medeiros finalmente ocorreu, em especial na região do ABC, que compreendia as cidades de Santo André (International Havester), São Bernardo do Campo (com Simca, Willys Overland) e São Caetano do Sul (General Motors), no estado de São Paulo. Assim, a FEI inaugurou um campus em São Bernardo do Campo, o que ocorreu graças a doação de um terreno 81.000 m2, localizado no Recanto Santa Olimpia, o qual foi cedido por Lavínia Gomes, esposa do prefeito Lauro Gomes.

Em agosto de 1963 começaram a funcionar os cursos de Engenharia de Operação em diversas modalidades, incluindo a Automobilística (MecAut), que tinha convênios com a École Nationale Supérieure d’Arts et Metiers (Ensam) da França. Entre um dos nomes mais importantes da MecAut estava o professor espanhol Rigoberto Soler, antigo funcionário da ENASA (Empresa Nacional de Autocamiones), fabrica de caminhões que, na década de 50, havia construído o famoso carro esporte Pegaso, obra prima do ex-diretor técnico da Ferrari, Wilfredo Ricart.

Soler, na década de 60, projetou para a Brasinca, empresa que fazia estampados e carrocerias para GM, Willys, FNM, Mercedes-Benz e Ford, um carro esporte com motor Chevrolet de seis cilindros chamado Brasinca 4200 GT, também conhecido como Uirapuru. Na FEI, Soler coordenou o DEPV (Departamento de Estudos e Pesquisas de Veículos), acumulando ainda o cargo de professor de Carroceria do MecAut. Inicialmente criou um carro com hélice que ser usado na água, o FEI X1. Equipado com a mecânica do Renault Gordini, o FEI X1 foi exposto no Salão do Automóvel de São Paulo de 1968.

Quando se aproximava a realização do salão de 1972, Soler incumbiu seus alunos trabalharem em um carro esporte, o X3 (também chamado de Lavínia, em homenagem a benfeitora da FEI) o qual seria uma espécie de evolução do 4200 GT. Previa-se o uso de uma estrutura de aço tubular e freio aerodinâmico, uma espécie de flap retangular embutido na traseira do veiculo. Feitos os desenhos os alunos do MecAut foram divididos em duas turmas, sendo uma responsável pela fabricação do chassi e outra da carroceria.

Inicialmente, para se ter ideia das dimensões do carro, foi usado um motor Ford Power King 292 V8 (Y-Block). Logo decidiu-se, porém, que a maior parte da mecânica a ser empregada seria a do Dodge Dart. A suspensão dianteira, por exemplo, era a Torsion Aire Ride, com barras de torção. O eixo traseiro, entretanto, teve os feixes de mola substituídos por molas helicoidais, mais adequadas a um esportivo. As rodas eram de magnésio, aro 14, com tala de oito polegadas na frente e 12 atrás. A caixa de direção, da marca Gemmer, era a mesma do Dart, mas com relação de redução 24:1 alterada para 15:1. Isso tornaria o sistema mais sensível para manobras em alta velocidade.

O motor era o 318 V8 LA fundido no Brasil, do tipo utilizado no Dart (198 cv SAE), depois substituído pelo do Charger R/T, com maior taxa de compressão e sistema de escapamento duplo (215 cv SAE). O câmbio, inicialmente do Dart, com apenas três marchas, também foi substituído pelo do Charger R/T, de quatro velocidades. A àrvore de transmissão foi modificada devido ao menor entre-eixos e uma nova relação de diferencial (coroa/pinhão) foi empregada, pois o X3 seria mais leve e aerodinâmico que o Dart. Os freios dianteiros a tambor também foram substituídos por outros a disco.

A construção da carroceria foi feita pelo método hammer form, como faziam os carrozzieri italianos. O X3 foi inteiramente moldado a mão em alumínio, com uma forte ‘gaiola” para proteger os ocupantes, portas tipo asa de gaivota (como no Mercedes Benz 300 SL), “bico” (frente) monolítica de alumínio, dois tanques de gasolina traseiros (com capacidade para 90 litros), escapamentos laterais externos e o já citado freio aerodinâmico. As lanternas traseiras, como nos carros atuais, ficavam nas colunas do teto. O X3 tinha dois estepes e um bom espaço para bagagens no porta malas, tendo existido um projeto de malas específicas para encaixarem no espaço existente. O pára-brisa era do Ford Galaxie 500.

Internamente o esportivo tinha bancos reclináveis (revestidos com pele bovina), ar condicionado, instrumentos de painel instalados em um console central e volante de três raios em alumínio. O porta luvas era uma maleta 007. Os alunos pretendiam, ainda, montar no carro uma câmera de 8 mm, para filmagens de testes, viagens ou treinos em autódromos. O X3 tinha 4,3 metros de comprimento, 1,8 metro de largura, 1,1 metro de altura, altura livre do solo de 0,18 m e pesava 1.100 kg, com coeficiente de penetração aerodinâmica 0,32.

O carro, inicialmente pintado de amarelo, foi construído por uma equipe formada por Ricardo Okubo, Ademir Fornasaro, Carlos Augusto Scarpelli, Flávio Vicenzetto, Gilberto Luz Pereira, Heymann A. R. Leite, José Pompeo Giannocoro, Roberto Barretti, Roberto Julio Asam e Rudolph Herbert Meyer. Esses alunos chegavam a fazer turnos das 6 horas da manhã até 4 horas do dia seguinte, dormindo em seus carros e sacrificando suas férias e finais de semana para terminar o X3 a tempo do mesmo ser exposto no Salão do Automóvel de São Paulo de 1972.

Mas o esforço não foi em vão: o carro, já nas cores verde e dourado metálico, se tornou uma das estrelas do evento, ganhando a admiração do então Presidente da República, General Emílio Garrastazu Médici. Graças ao protótipo, o governo federal passou a conhecer melhor o que fazia a FEI e apoiou financeiramente o desenvolvimento do TALAV, um trem aerodeslizante de alta velocidade. Atualmente o FEI X3 Lavínia, restaurado pela FEI, ainda faz parte do acervo da faculdade, sendo exposto em diversos eventos relativos a automóveis antigos.
