Clássico modelo Chevrolet que traduz a alma automotiva californiana da década de 1960 foi restaurado por empresário paulista
A paixão desde a mais tenra infância pelos clássicos das quatro rodas e o certo desconhecimento inicial sobre o assunto que mais tarde vira mania são quesitos que não se encaixam muito bem e parecem sem sentido para um primeiro entendimento.

Mas ambos facilmente se encontram quando trazemos à tona os reais motivos pelos quais muitos brasileiros começaram a gostar de carros antigos.
A história do empresário paulista Lélio Cremonini Ferrari, 43 anos, não é diferente. Mesmo com a suposta “responsabilidade” de carregar o sobrenome da famosa marca italiana, ele não esconde de ninguém que seu verdadeiro “xodó” são os Chevrolet Chevelle Malibu fabricados em 1967.
O fanatismo latente pelos automóveis “Vintage” (em especial por modelos norte-americanos) está guardado na memória de Lélio desde as primeiras vezes em que ele dirigiu.
“Na verdade, só sabia que um carro clássico era algo grande e com lanternas traseiras pequenas. Isso sempre me chamou a atenção, não sei bem o porquê. Com o passar do tempo, me inteirei mais desse universo. Tive diversos outros carros, até começar a prestar mais atenção na classe e imponência dos modelos da Chevrolet das décadas de 1960 e 1970 e, com isso, me apaixonei pelos Chevelle”, afirmou.
E a odisséia do nosso protagonista, o Muscle Car Uranium 454 - como o empresário gosta de chamar seu carro -, começou por acaso. Lélio passava todos os dias por uma revendedora de barcos em São Paulo e via que lá “repousava” um Chevelle Malibu em bom estado, mas fragilizado pela ação do tempo. Após quatro meses de namoro, finalmente Lélio conseguiu comprar o sonhado carro.
ALMA CLÁSSICA
Os profissionais da loja especializada Autoracing, em São Paulo (SP), foram os responsáveis pelo projeto. O intuito inicial era apenas o de colocar um motor Big Block para substituir o original V8 283. Mas a demora com a importação das peças fez com que Lélio optasse por uma gama mais completa de restaurações, sempre com a intenção de proporcionar um visual moderno e equilibrado com as linhas clássicas do modelo.
Assim, o chassi ainda é o original e apenas teve as buchas e borrachas trocadas. Todo o conjunto de suspensão também preserva a originalidade de fábrica. Os freios são a disco nas quatro rodas e da marca Willwood. O escapamento em inox é feito à mão, com válvulas elétricas e abafadores Magnaflow.
Como a carroceria estava sem problemas de funilaria, a equipe da Autoracing apenas teve de se preocupar com os detalhes da nova pintura. Visivelmente inspirada nos “Street Rods” norte-americanos, foi toda elaborada a partir de uma base prata. Depois, recebeu pigmento vermelho com Flakes laranja e preto com detalhes holográficos.
As rodas aro 17” são da Boyd Coddington, calçadas com pneus Continental medias 235/55 (dianteiros) e 255/70 (traseiros). Os faróis, lanternas traseiras, retrovisores e emblemas são originais e foram todos importados da NPD Link, tradicional revendedora norte-americana de equipamentos automotivos Vintage e certamente fazem um contraponto estético bastante interessante com a ousadia da pintura do Chevelle.
BRUTO
Os componentes e equipamentos mecânicos contam com detalhes que buscam uma performance naturalmente forte e confiável. Assim, após um período de pesquisas, Lélio chegou na combinação que considerou ideal para o seu objetivo e deu início aos trabalhos.
O motor original do Malibu foi trocado por um V8 Big Block 454, com cabeçotes de ferro fundido retrabalhados em banco de fluxo (160 CFM). No bloco, um detalhe que chama a atenção é o de que há quatro parafusos no mancal (geralmente são dois). Dessa forma, todo conjunto fica mais resistente e robusto, em conjunto com o coletor de admissão Performer RPM e o carburador Speed Demon de 850 CFM. Os pistões TRW foram forjados estilo “Dome” (também chamados de ‘cabeçudos’, que contam com um ressalto para maior compressão). Por fim, as bielas, também forjadas, são Eagle.
Todas as válvulas são em aço inox da Manley e o comando de válvulas é um Comp Cams de 282°. O câmbio automático de fábrica também foi substituído por um mecânico de cinco velocidades, com diferencial autoblocante 3.90, o que garante uma aderência mais uniforme para toda a potência bruta do Chevelle. De acordo com Lélio, o Malibu conta com aproximadamente 550 cv, que foi ainda mais apimentado com a instalação de um kit nitro Super Power Shot, da NOS, para injetar mais 150 cv em apenas um toque.
“Queria, na verdade, um carro rápido na saída dos faróis de São Paulo e, quando pegasse a estrada, uma quinta marcha para aliviar um pouco. Creio que conseguimos nosso objetivo. Tem potência de sobra aí. Só é preciso fazer força para não ‘fritar’ o tempo todo”, comenta Lélio.
Por dentro, os requintes clássicos ainda imperam nos detalhes, mesmo com as mudanças e customizações realizadas no painel, que agora conta com instrumentação da Auto Meter para monitoramento de velocidade, conta-giros, combustível, pressão de combustível e de óleo, temperatura de água e óleo e pressão de nitro.
O volante é um Grant de época e a manopla de câmbio foi estilizada como uma bola de beisebol. Os pedais ainda são os originais e os estofamentos foram revestidos de couro. Toda a tapeçaria é feita com tapetes náuticos de borracha e os bancos são de couro nas tonalidades preta e cinza.
“Com certeza, logo vou incorporar outros equipamentos para ressaltar cada vez mais a alma esportiva e de ‘Muscle Car’ desse Chevelle. Ele só roda nos finais de semana, nas ruas e estradas. E transborda tanta classe que às vezes dá a impressão de que estamos bem longe daqui. Isso é impagável”, determina o empresário.
Por Fernando Capelli Fotos Marcello Garcia
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